A crise climática é uma realidade que já afeta milhões de pessoas no mundo. Um relatório da agência beneficente britânica Christian Aid aponta uma disparidade global: nações ricas, com altos índices de emissão de dióxido de carbono (CO₂), possuem mais estrutura para lidar com as mudanças do clima, enquanto os países mais pobres, historicamente marginalizados e sobretudo no hemisfério sul, sofrem diretamente as consequências do aquecimento global. Em casos graves, essa crise ameaça a segurança alimentar de seus habitantes.
No Brasil, climas, ecossistemas e modos de vida são impactados de forma cada vez mais intensa. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o país já convive com uma combinação de eventos severos como secas prolongadas, inundações, chuvas extremas, deslizamentos e ondas de calor. Problemas ambientais como queimadas e desmatamento, somados à elevação do nível do mar e erosão costeira, agravam a insegurança alimentar da população.
A Centralidade da Justiça Climática e Social
Neste cenário, a justiça climática ganha relevância. Elaine Fernandes, docente da Estácio, explica que o conceito parte da compreensão de que as mudanças climáticas não afetam todas as pessoas de forma igual. As populações mais vulneráveis, como povos indígenas, comunidades tradicionais, moradores de periferias urbanas, mulheres, pessoas com deficiência (PCDs), LGBTQs e neurodivergentes, são as que mais sofrem os impactos ambientais, apesar de serem as que menos contribuem para a degradação da natureza.
A justiça social, que visa a distribuição equitativa de oportunidades, recursos e direitos, interliga-se à pauta climática. Defender o clima é também defender pessoas, pois não há como combater a crise ambiental sem garantir o direito à vida digna, à moradia, à educação e à proteção das minorias.
Direitos Humanos e Desigualdade Estrutural
A crise climática compromete diretamente a garantia dos direitos humanos. A Anistia Internacional aponta que as mudanças climáticas e meteorológicas desencadeiam deslocamentos forçados e ampliam a vulnerabilidade de populações já afetadas por conflitos e desigualdades. Dados do Programa Mundial de Alimentos (PMA) mostram a gravidade da situação: em 2023, 9,2% da população mundial estava subnutrida e mais de 333 milhões de pessoas enfrentavam risco de vida pela falta de alimentos.
Para Elaine Fernandes, insistir no debate sobre direitos humanos é indispensável. Apesar de um arcabouço jurídico robusto, a efetividade desses direitos permanece desigual. Questões como racismo estrutural, capacitismo, violência de gênero e marginalização de minorias demonstram que o discurso ainda não se traduz em políticas públicas eficazes. Discutir direitos humanos é reafirmar o compromisso ético e político de garantir dignidade e reconhecimento a todos, especialmente àqueles que historicamente foram silenciados ou excluídos dos espaços de decisão.
COP 30 e o Futuro da Amazônia
A escolha de Belém para sediar a COP 30 coloca o Pará no centro das discussões globais sobre sustentabilidade e justiça climática, reforçando a necessidade de integrar a agenda ambiental à social. Segundo o Índice de Progresso Social (IPS) publicado neste ano, a Amazônia Legal registrou média de 56,4, abaixo da média nacional de 62,1, em dimensões como Necessidades Humanas Básicas e Fundamentos do Bem-Estar, revelando pontos críticos como saneamento e acesso ao conhecimento.
A Amazônia é um território de saberes, lutas e esperança. Defender o bioma é também defender as populações que dele fazem parte. A chegada da COP amplia essa visão para o mundo, destacando que não existe equilíbrio ambiental possível sem garantia de direitos, combate às desigualdades e respeito à diversidade humana.
